Foi lançado uma proposta de nossa autoria, com fulcro no Edital Nogueira da Lei Paulo Gustavo, a produção de um Documentário – Curta-metragem contando a história do cangaceiro Adolfo Rosa Cruz Meia-Noite, natural de Jabitacá, município de Iguaracy.
Neste domingo (19), tivemos a grata satisfação de poder contar com o apoio e participação de outros ilustres descendentes do Inglês da Volta e familiares de Adolfo Meia Noite, entre eles o advogado e ex-desembargador do Tribunal Eleitoral, Dr. Roberto de Freitas Morais e do ilustre casal, Cleonice de Freitas Pedrosa Alcântara e Bartolomeu Alves Alcântara.
Roberto Morais juntamente com o seu irmão, o atual desembargador do Tribunal de Justiça, Dr. Bartolomeu Bueno de Freitas Morais, são netos de Petronila Alves de Freitas, que era prima de Adolfo Meia-Noite, ambos portanto, sobrinhos-bisnetos de Adolfo.
Já a senhora Cleonice Alcântara, e seu primo e esposo Bartolomeu Alves, residentes em Rondônia, no Norte do país, são também sobrinhos-bisnetos de Adolfo Meia Noite e cresceram no sítio Cabrito, no município da Ingazeira, ouvindo relatos das aventuras e travessuras do cangaceiro. A senhora Cleonice, mais conhecida entre parentes e amigos por Dicinha, e seu esposo Bartolomeu, mais conhecido por Berto, tem por bisavó a senhora Marfisa Alves de Freitas, que tinha o apelido de Sinhazinha, casada com Leonel Siqueira Paz e irmã de Adolfo.
Neste domingo (19), foi de muita conversa e discussões a respeito da trajetória de Adolfo Meia Noite. Quem fez a ponte com Cleonice e Bartolomeu Alves foi o Dr. Roberto Morais, onde também na ocasião passou o contato de outras pessoas que também serão de grande importância ao documentário, para que este fique o mais fiel possível com a realidade dos acontecimentos, porém, como estamos aguardando ainda o resultado final da aprovação do projeto, evitaremos criar maiores expectativas entre outras pessoas.
Um importante nome do universo da pesquisa e estudo do cangaço de nossa região abraçou a ideia e estará conosco compondo nesta caminhada. O escritor, pesquisador e historiador Alexsandro Acioly Silva (foto acima), membro do Centro de Pesquisa e Documento do Pajeú (CEPEDOC), estará realizando uma análise crítica com interpretação dos acontecimentos, dando sustentação as narrativas, se contrapondo quando necessário e comprovando documentalmente os fatos que irão fazer parte do documentário.
Coincidentemente, Alexsandro Acioly também é descendente do Inglês da Volta. Apesar de ter morada em Afogados da Ingazeira, este jabitacaense de coração também possui uma propriedade no Sítio Tapuio, vizinho ao Sítio Volta e está escrevendo um livro sobre a história de Adolfo Meia Noite. Com experiência de participação em produções audiovisuais para a Funcultura, Fundarpe e Secretaria Estadual de Cultura, Leca, como é conhecido entre amigos, além de proporcionar um aprofundamento documental riquíssimo sobre a ação da “Fera de Varas”, também se ofereceu para auxiliar no processo de filmagens.
Um pouco sobre o projeto:
Apesar do fascínio que o cangaço exerce, o documentário “A Fera de Varas – A Saga do Cangaceiro Adolfo Rosa Meia Noite”, não nasceu com o sentimento de fazer qualquer tipo de apologia ao banditismo e a violência, ou seja, não iremos procurar forjar elementos para “romantizar” e “endeusar” personagens dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor.
Os acontecimentos históricos, como os do cangaço, não ocorreram de maneira continua e linear, como o desenrolar de uma película de filme qualquer, os episódios aconteceram encharcados de rupturas e tensões. Estaremos juntando todas as peças desta colcha de retalhos em um documentário repleto de eventos que se entrelaçam numa rede complexa de acontecimentos, cujos desdobramentos, produziram histórias dentro da história.
A produção buscará trabalhar com uma linguagem fácil, leve e acessível, mostrando a outra face da vida dura do cangaço, que aqueles personagens eram pessoas, seres humanos que possuíam famílias e que por motivos certos ou errados, acabaram se enveredando no mundo do crime.
O projeto tem por objetivo o resgate e a preservação da história do cangaço dentro e às margens no município de Iguaracy, contando detalhes e pormenores da trajetória da FERA das quebradas do Sertão do Pajeú, e que por ter atuado ainda no século XIX, é um dos primeiros cangaceiros que se tem notícia em toda a história.
Outro objetivo é também consolidar de forma responsável a presença deste personagem Adolfo Rosa Meia Noite, dentro da historiografia do cangaço em nossa região do Pajeú que já prestigia outros nomes como Lampião e Antônio Silvino.
A produção deste documentário também tem como objetivo despertar a comunidade estudantil e acadêmica bem como também às instituições culturais da região para a importância do Cangaço na formação do nosso atual contexto histórico.
Desta forma, traremos à tona o valor histórico e cultural do fato que ocorreu em Iguaracy, despertando na consciência da sociedade iguaraciense que nosso presente, nossos costumes e tradições, tem estreitas ligações com o nosso passado. Mostrar que este fenômeno tão rico e intrigante que foi o cangaço também faz parte de nossas raízes. Isto certamente despertará um maior interesse da sociedade iguaraciense em se aprofundar cada vez mais na história do município.
Outra meta importante a ser considerada é o de estimular o desenvolvimento do turismo local. Entendemos que as cidades que possuem histórias do cangaço têm que olhar com mais zelo a possibilidade em desenvolver roteiros de turismo em cima do tema. Além de manter viva a história, a exploração do conteúdo movimentaria de forma positiva a economia local, assim como acontece em outras regiões do Nordeste onde existem roteiros criados a partir da saga cangaceira.
Lembrando outrossim, que o distrito de Jabitacá ainda hoje se encontram preservados lindíssimos casarões, grandes e magníficas fazendas de coronéis e diversos prédios históricos, a exemplo da centenária e majestosa Igreja da Imaculada Conceição.
O projeto que é encabeçado por minha pessoa, surgiu ao participar como fotógrafo e cinegrafista de um grupo de expedição que realizava um levantamento de informações para o programa “BORA PERNAMBUCAR”, onde me deparei com essa história fascinante, fantástica e ao mesmo tempo desconhecida e fadada a desaparecer por completo ao longo dos anos.
Então nasceu o desejo de realizar um documentário com depoimentos e pesquisas a respeito da saga do cangaceiro. Num primeiro momento veio muitas indagações e provocações, entre elas o alto custo financeiro que uma produção como esta viria a ocasionar. Porém, com a chegada da Lei Paulo Gustavo em nosso município, hoje acredito que esta ideia em breve se tornará uma realidade, a depender da aprovação de comissão formada pela Secretaria de Cultura e Turismo de Iguaracy.
Outro local de grande destaque para as gravações será a propriedade onde viveu o Inglês da Volta, Richard Breitt e seu neto, Adolfo Meia Noite, no Sítio Volta, destacando a casa antiga que ainda existe no local e as furnas e trincheiras que foram para o cangaceiro e seu bando o maior e mais importante refúgio em toda região, cenário por demais destacado de episódios marcantes na época.
Na realização do projeto, buscaremos apresentar recortes de memórias de parentes, personagens e populares da região que forem surgindo ao longo da produção, porém, sem dúvidas o maior destaque será a participação do Senhor Antônio Alves De Freitas, tataraneto do Inglês da Volta, sobrinho-neto de Adolfo Meia Noite e herdeiro da propriedade onde viveu o cangaceiro. Seu Antônio irá relatar sobre o que ouviu de seu pai e de seu avô, sobre os tempos de convivência com o cangaceiro, bem como também, as lendas e o folclore em torno do mesmo.
Por Alexsandro Acioly (historiador, poeta e compositor)