Longe do Sertão de Pernambuco, o jovem João Ferraz, de 28 anos, natural de Serra Talhada, vive hoje uma realidade extrema: a guerra. Ex-mecânico, ele trocou a rotina da oficina pelo combate armado na linha de frente da Ucrânia, onde atua como voluntário em uma brigada estrangeira do Exército Ucraniano.
Sem ter servido ao Exército Brasileiro, João começou a acompanhar o conflito desde os primeiros ataques russos em 2022 e decidiu que queria se alistar. Por meio de um site oficial, passou por entrevistas, exames físicos e uma checagem de antecedentes até receber uma carta-convite. “Sempre gostei de militarismo. Esse foi um dos motivos. O outro é o que a Rússia está fazendo, atacando cidades, matando civis”, declarou.
Hoje, identificado nas redes como “Cavêra”, nome de guerra representado por um emoji de caveira, ele soma mais de 33 mil seguidores no Instagram, onde publica vídeos diretamente do front. Em meio a tiros, trincheiras e explosões, segura o fuzil com uma mão e o celular com a outra para mostrar a dura realidade do campo de batalha. Na bio, uma frase em ucraniano chama atenção: “Slava Ukraini” (“Glória à Ucrânia”).
João revela que o cotidiano na guerra é imprevisível: pode haver momentos de repouso, mas também missões inesperadas e extremamente perigosas. “Se cumprir a missão, deu certo. Se não der certo, não tem mais vídeo, não tem mais foto, não tem mais nada”, resume, com a frieza de quem convive com o risco de morte a cada instante.
A pressão psicológica atinge muitos dos combatentes estrangeiros. Dos 29 brasileiros que iniciaram na mesma brigada, segundo ele, apenas 18 permanecem. “Tem gente que surta, entra em pânico, não consegue lutar. Outros fogem. Muitos não aguentam”.
Apesar do medo, que admite sentir, João afirma que não há espaço para hesitação no campo de batalha. “Medo todo mundo sente. Mas aqui não tem espaço pra isso. Com medo, você não faz o que tem de ser feito”, diz, em um tom que reflete a brutalidade da guerra e o impacto psicológico dos combates.
A história de João Ferraz exemplifica a trajetória de brasileiros que, mesmo sem experiência militar prévia, decidiram enfrentar o campo de guerra ucraniano movidos por convicções pessoais e o desejo de combater o avanço russo no Leste Europeu.