Após a morte do jovem conhecido como Vaqueirinho, uma conselheira tutelar que acompanhou sua história por oito anos divulgou uma nota emocionante, relembrando momentos marcantes e o sonho constante dele: viajar para a África e cuidar de leões.
Em suas palavras, ela descreveu o menino como alguém cheio de imaginação, inquietude e desejo de liberdade:
“Gerson, meu menino sem juízo… quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia a mim que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar dos leões. Você ainda tentou… mas eu agradeci a Deus quando fui avisada pelo aeroporto que você tinha cortado a cerca e entrado no trem de pouso de um avião da Gol. Dei graças a Deus porque observaram pelas câmeras que havia um adolescente ali antes que uma desgraça acontecesse.”
A conselheira contou que acompanhou o jovem desde os 10 anos, quando ele chegou ao Conselho Tutelar entregue pela Polícia Rodoviária Federal após ser encontrado sozinho na BR.
“Foram oito anos acompanhando, lutando, brigando para garantir seus direitos. Quando você entrou na minha sala pela primeira vez, tinha apenas 10 anos. Eu e a conselheira Patrícia Falcão recebemos você das mãos da PRF. Desde então, toda a Rede de Proteção passou a me procurar quando qualquer coisa acontecia com você.”
Ela destacou que nunca conseguiu vê-lo da forma como as redes sociais o retratavam, mas sim como a criança que carregava uma história marcada por abandono, falta de acolhimento e tentativas frustradas de encontrar um lugar no mundo:
“Eu conheci a criança que foi destituída do poder familiar da mãe, que não tinha condições de cuidar por ser esquizofrênica. A avó também tinha problemas mentais. Ele foi impedido de ser adotado como os outros quatro irmãos. E quando perguntei o porquê, a responsável pela instituição de acolhimento justificou: ‘Quem iria adotar alguém como ele?’”
Segundo ela, tudo que o jovem queria era simples e impossível ao mesmo tempo: voltar a ser filho de sua mãe.
Do Nill Junior
